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Adeus, África é um livro que na minha opinião tem muitos pontos positivos. Pontos esses que me fizeram gostar ainda mais dele. O primeiro ponto que vou referir é a capa, acho que tem muito a ver com o livro apesar de ser bem mais moderna do que a época de vida das personagens. As margens parecem quase como um papel daquele tempo que sobreviveu até hoje mas não ileso. As nuvens que semi cobrem as letras fazem lembrar memórias distantes e histórias não contadas. É quase como se a capa fosse um retrato de uma das personagens, não vou dizer qual, pois lendo o livro rapidamente se percebe qual é ;)
Segundo ponto, é a forma continua como se desenrola o texto. Apesar de haver várias frentes da história, distintas em tempo, espaço, personagens e por vezes em facetas dos envolvidos, a história é narrada com poucos capítulo não numerados e várias quebras de uma linha ou aerogramas que fazem a transição entre as narrativas.
Um terceiro detalhe, que se torna muito importante por nos fazer identificar com a época em causa é as Cartas de Guerra ou aerogramas. Aparecem para criar a transição entre o tempo e espaço de que vos falei ainda agora, mas acabam por nos mostrar "o cá e o lá" daquele tempo. Irei transcrever a primeira Carta de Guerra que aparece no livro, todas começam com a mesma introdução o que nos dá a sensação de que estamos mesmo a ouvi-la na rádio...
Bom dia, ouvintes da Rádio Futuro! Nova manhã, nova história... Sem mais demoras, vou ler a Carta da Guerra escolhida pelo júri para o nosso programa de hoje. Parabéns ao vencedor: «Queria enganar-me e por isso pedi a um escultor que reproduzisse o meu filho morto num pedaço de pedra. E ele, a troco de dinheiro, lá esculpiu o bloco de forma muita perfeita. Espantei-me porque só lhe dera uma fotografia a preto-e-branco e o resultado do trabalho do artista fez com que voltasse a ter aquela criança crescida sempre a fazer-me companhia na sala. Havia dias em que sentia mais saudades dele e então mudava a estátua para as outras divisões da casa. Tantas vezes o fiz que acabei por adaptar a base da bilha do gás como se fosse um carrinho e, puxando por uma corda, levava o adolescente-soldado atrás de mim como se estivéssemos a conversar ainda nos tempos de antigamente. Quem me visse de longe até pensaria que eu puxava o aspirador de uma parte da casa para a outra; só quem observasse de perto é que veria que aquele pedestal com rodas não era um electrodoméstico mas uma recordação.»
Um quarto ponto é de que o autor consegue um equilíbrio entre a ficção e a nossa história; e entre a ação e a descrição do ambiente. Quinto ponto, o autor consegue ligar-nos à história de uma maneira intensa, há momentos em que sentimos o que as personagens sentem, há momentos que sentimos pena, há momentos que sentimos ódio, curiosidade, medo e há momentos em que ficamos de coração apertado. A história é narrada na primeira pessoa por um psicólogo, no entanto há diversos momentos em que é narrada por outras personagens o que ajuda a nos conectar com os acontecimentos.
Para terminar, o autor consegue na perfeição contar-nos a história pela melhor ordem. Ele anda para a frente e para trás no tempo, mas com isso consegue fazer com que a nossa curiosidade cresça e o apego pelas personagens seja grande. Gostei muito do livro e tenho a dizer que o recomendei a um amigo no mesmo dia em que o terminei :)
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Contracapa: Adeus, África de João Céu e Silva
Título original: Adeus, África - A História do Soldado Esquecido
Autor: João Céu e Silva
Editora: Guerra e Paz
1º edição: Junho de 2015